4 patas, muito pêlo e muito amor
Tenho 29 anos e não tenho filhos. Nem nunca pensei muito no assunto do filho que cresce dentro de nós durante 9 meses. (nem gosto de pensar: estudei isso e só de pensar nas mudanças que é para o corpo da mulher arrepio-me e não falo na questão estética, falo na questão biológica mesmo). São opcções.
Contudo eu não considero que não tenho filhos. Só não tenho filhos "convencionais".
Tenho 29 anos e nunca me vi sem um filho de 4 patas.
Não há nada como o amor de um animal, seja de duas patas e racional, como de 4 patas e irracional. Mesmo quando estive na faculdade não vivi sem animal. Tivemos uma gata chamada Marrie. Embora o nome escolhido para ela, era da gata da Disney, muito delicada e branca, a Marrie era o oposto: uma gata tartaruga que tinha tanto de feieza como de gostosura. Adorava aquela gata. Infelizmente já morreu, mas foi muito feliz no campo: livre era onde ela era feliz.
Mas já tive um Alfie. Desde que me lembro que tive para aí dois gatos siameses Alfies; tive um Cocker chamado Joe; um cágado chamada Dundee; hamsters russos que não me lembro bem do nome deles porque mataram-se e fiquei traumatizada; um papagaio africano chamado Xico que era viciado em café; uma cadela rafeirinha muito gorda chamada Xica; uma rotweiller resgatada depois de 3 meses em loja fechado numa jaula chamada Zara; um pastor alemão adoptado aos 5 anos porque o dono foi para a Inglaterra chamado Prince; um gato preto apanhado em pleno cemitério chamado Kiss; um gato cinzento deixado à porta da clinica veterinária com dias de vidas chamado Tom; um pastor alemão tresloucado chamado Nero; um gato goooooooordo laranja apanhado no meio da rua por crianças e que ninguém reclamou chamado Sam; uma gata com um feitio peculiar apanhada por mim no meio da mata, com pouco mais de uma semana chamada Copas; uma yorkie chamada Jennifer Lanosa Devil; uma furão precocemente morta por uma gata chamada Cleo; uma yorkie adoptada chamada Sansa, e um yorkie extremamente preguiçoso chamado Chewie; uma porca da India chamada Miss Piggy que deu à luz a um porquinho da India chamado Capitão Pata Negra.
Entre muitos outros que posso não estar a referir agora.
Tenho amor para todos, posso sofrer por causa disso, mas sofro mais quando os vejo sofrer. Não consigo imaginar o que é um animal só, a sofrer na rua, com fome e frio, depois de saber o que é o conforto de um lar. Sofro quando os ouço a gemer a de dor. Saio de caso e se puder, se passo por algum lado que tenha um doce ou presente, trago para eles. E cá em casa há sempre decisões a contar com eles. Ceia de Natal incluida.
Sou assim e não quero mudar. Faz parte de mim. Posso ter a roupa com pêlos, passava melhor sem ter que limpar mais casa e os acidentes que acontecem como sem o peso na consciência quando não posso ajudar todos. E sem gastar tanto dinheiro é verdade. Mas ia ter um vazio dentro de mim, algo que está aqui, que me aquece, que me dá alegria. Não sei bem explicar como é, nem como começa e acaba, mas sem isso não sou eu. E não é só com estes animais que são fofinhos, com pelinhos, não. Sou assim para quase toda a criação, incluindo invertebrados, como insectos. Durante a minha tese de mestrado todos diziam que eu nesse ano ia fazer nada. Desde Setembro até Julho, quase todos os dias, estava eu, cedo,no laboratório a olhar por uma lupa microscópica para apanhar tardigrados e ovos, contar rotíferos e nemátodes. E ria-me sempre que passava um rotifero bdelloidea, a limpar o fundo do petri como se fosse uma máquina de limpeza de rua. Ficava por vezes derretida a ver um tardigrado a brincar com um pouco de musgo.
É um amor incondicional. Já para não falar que são bons para a ansiedade, não só pela questão emocional, mas porque a obrigação que temos para com eles é uma forma de não pensarmos no resto. Tenho que ir colocar o cão lá fora, tenho que limpar o chão, tenho que trocar a gaiola. Grão a grão, e vamos preenchendo a cabeça com isso.
Por isso, recomendo-vos um filho de 4 patas. Vão ficar com a casa mudada, e mais suja nalguns casos, mas o coração bem mais cheio.
Sinceramente,