O que tenho lido #14
Para os meses de Janeiro e Fevereiro, o livro escolhido no clube de leitura "Companhia da Tinta" foi "I Robot" de Isaac Asimov. Este livro também contou para o projeto da Raquel e da Mariana, dos 101 livros de fantasia e ficção cientifica.
Quando olhei para a estrutura do livro fiquei um pouco surpresa pois não contava que o livro fosse dividido em 9 contos, nas poucas críticas que li acerca dele não tinha visto comentários mencionando os contos. A linha de história não tem nada a haver com o filme. O filme, apenas aproveitou algumas premissas que Isaac Asimov apresenta neste livro, como as 3 leis robóticas:
1. Um robot não pode magoar um ser humano ou através de inacção deixar um ser humano magoar-se a si próprio.
2. Um robot deve obedecer a ordens dadas por ser humanos excepto quando essa entra em conflito com a lei 1.
3. Um robot deve proteger a sua existência excepto quando essa protecção entra em conflito com a lei 1 e 2.
Os contos não estão relacionados entre no si no sentido que se lerem o conto número 9, e depois o número 3, percebem o enredo da história sem necessidade de conhecimento prévio. Contudo, tem mais sentido ler por ordem pois os contos são nos apresentados por ordem cronológica da evolução histórica dos robots e da sociedade humana claro. Começamos o primeiro conto com um robot que não falava e era a ama de uma criança, e acabamos com um conto onde nos é apresentado como está dividida a sociedade mundial em 4 grupos principais conforme a organização geográfica maioritaritariamente e como cada grupo tem um mega máquina que resolve e administra os problemas da região.
Asimov criou aqui uma obra de arte de ficção cientifica, e as questões morais e éticas apresentadas são tão presentes e intemporais na minha opinião, que facilmente nos identificamos. Temos que pensar que no contexto em que o livro foi escrito, pós guerra, houve um avanço técnológico enorme e existia uma mitologia por assim dizer à volta da tecnologia. Hoje em dia já não pensamos com tanta admiração porque já temos a tecnologia no dia a dia como garantida. E questões como se calhar apresentadas no primeiro conto em que uma criança não brinca com outros da sua idade nem liga muito a animais porque queria o seu robot, já não nos assusta tanto (como deveria) como se calhar naquela altura. Ainda assim não deixam de ser questões importantes porque todos os contos têm uma questão ético-moral desde os robots cujo trabalho entra em conflito com a programação deles, o robot que não acredita que sendo tão avançado fosse criado por humanos e por isso criou uma fé à volta do computador central (o meu conto favorito), até robots programados com uma lei robotica alterada e super máquinas que se auto protegem.
Como já referi a única relação entre os contos é a ordem cronológica mas as personagens que habitam lá também aparecem várias vezes como Powell e Donovan, e Dra Susan Calvin a psicóloga de robots. A construção das personagens é fantástica, temos Powell e Donovan os engenheiros que testam os robots que não gostam muito do seu trabalho e que suspeitam quase sempre de algo maléfico quando existe uma falha nos robots. E temos a Dr Susan, fria, calma, mas que no fundo é uma pessoa simples porque sabe pensar como os robots. Existe uma frase que ela diz num dos últimos contos que adorei. Diz que os robot e os humanos estão mundos àparte, pois os robots são essencialmente decentes. Penso que esta frase resumo muitos dos dilemas que são apresentados em cada conto: basicamente, a falta de humanidade não tem que ser um defeito, por vezes a própria humanidade é que deturpa os problemas.
São histórias rápidas de ler, interessantes. Podem ter algum nível de linguagem técnica elevada numa frase ou outra, mas facilmente se digere.
Aconselho, e fiquei ainda com mais curiosidade de ler as restantes obras deste autor Russo.
Sinceramente,