DIA A DIA // O romancismo das pequenas coisas
Enquanto conduzia e ouvia a música " The story of my life" dos One Direction ( estava a dar na rádio, juro que não faz parte da minha playlist), ouvia atentamente o refrão e lá dizem este meninos, que conduzem a noite toda para a manter quente " I drive all night to keep her warm and time is frozen". Conclui que o romance à moda antiga, o romance das pequenas coisas, o romance do sacrificio para fazer o outro feliz, desapareceu.
Não vos falo daquele romance cliché, peganhento, nem de tragédias gregas ou Romeu e Julietas. Mas dos pequenos gestos como conduzir uma noite inteira só para estar com alguém, no sentido de proteger essa pessoa. Acho que o problema são mesmo as redes sociais e as novas tecnologias. Digo isto não porque agora é trend como se fosse algo novo, apontar o dedo a tudo, e radicalizar o assunto. De repente todos falam das redes sociais como algo maléfico, mas, falam disso para o mundo como? Através de uma rede social. Aliás, reparem o quão irónico seria uma dessas modas ser bem sucedida a 100%. As redes sociais e novas tecnologias deviam por si aprimorar a nossa vida, qual cereja em cima do topo do bolo: fazer o mesmo trabalho em menos tempo e permitir que a comunicação fosse mais fácil e acessível para todos, como encurtar distâncias nesta época da globalidade. Mas a verdade é que não só nos fez trabalhar mais porque podemos fazer muito mais no mesmo tempo, como estamos mais disponíveis. E por isso desvalorizamos o contacto. Não é uma coisa imediática, nem é extremista, e não acontece só a certo tipo de pessoas ou faixa etária, mas a verdade é que o facto de sabermos que podemos facilmente contactar acabamos por nos tornar menos sensibilizados.
Claro que numa relação de distância, ainda bem que temos estas tecnologias! O mal está nas coisas pequenas do dia a dia. Pensem: mandar uma mensagem pelo messenger ou um e-mail a alguém, tem o mesmo impacto que enviar uma carta para alguém e sabermos que essa mensagem só será lida daqui a 2, 3 dias (isto se os CTT não estiverem em greve ou a carta não for extraviada)? Todo o processo da criação da carta, o cuidado a escrever, tudo o que seja essencial e a forma como está escrito, o processo da escolha do que vai ser escrito e como, e só o facto de ter que esperar que seja enviado e esperar pela resposta, cria outro impacto. O facto de durante o dia podermos estar constantemente a falar com as outras pessoas, faz com que quando estivermos com eles a conversa já não tem o mesmo valor porque novidades? De facto já nem no Continente. E o romancismo morreu porque a uma distância de 30 km, resolve se com um emoji e boa noite, com bejinhos, e não uma viagem, ou o impacto de só falarem quando esses 30 km forem galgados.
Eu não rezo para que voltemos ao tempo da pedra. Eu prezo pela época em que vivemos pois temos todo o conhecimento e valores do passado ainda bem presente na nossa memória colectiva, e já temos tecnologia que nos facilita a vida. Mas como sempre, abusamos (você abusoooouuu! tirou partido de mim, abusouuuu!) e viramo nos para os extremismos, quando a nossa responsabilidade devia ser guardar o melhor de todas as épocas. Somos os actores e espectadores do filme da nossa vida, mas que com esta pressa de viver, acabamos por nos sentar mais vezes a fazer replay e foward com a ideia de que temos tempo para fazer a cena que faltame esquecemo nos que deviamos era mais viver as cenas, e criar mais cenários.
Utopia? Talvez. Romântica? Sem jeito, eu sei. Mas o que está em causa aqui não é eu querer conduzir noites para ir ter com o meu mais que tudo, e comprar um conjunto de escrever de cartas com cera e brasão para fechar os envelopes. Para mim está em causa um dos pilares da nossa condição humana: a sociabilidade. Porque as redes sociais transformaram a socialização num egocentralização: as fotos que publiquei, os grupos de participei, as páginas que criei, os jogos que joguei, os filtros que usei.
Por isso dêem um abraço hoje se têm tempo e amanhã dêem outro, conduzam durante a noite só para dar um beijo (mas com cuidado ok!), escrevam cartas e mandem recordações das coisas que viveram: uma flor que viram no campo e vos lembrou de alguém, uma foto do vosso pequeno que não vai desaparecer do telemóvel.
Sinceramente,