Correntes de Escrita 2018
Na semana passada, desde o dia 21 ao dia 27 foram as Correntes de Escrita, na Póvoa de Varzim. É um evento que tem como objeto principal de admiração, a literatura.
Já fui há uns anos, penso que em 2010, numa mesa que tinha o Nuno Crato, Onésimo, Raquel Ochoa, Valter Hugo Mãe e Luis Sepúlveda, e este ano consegui ir outra vez. Num intervalo de 8 anos, muito me aconteceu e posso dizer o mesmo do festival. Aumentou substancialmente, por isso o local já nem é o mesmo, e muitas mais pessoas a assistir ao evento. Penso que mesmo o cartaz em si tem evoluido bastante. É verdade que tem muitas caras sempre repetidas, como dizia o Onésimo ele é o avó do festival mas o Luís Sepulveda é o avozinho. Mas têm inserido sempre muitas caras novas. Contudo, admito que continuam a falhar nomes portugueses de literatura na área da ficção cientifica/fantasia, e outros nomes como Francisco Salgueiro por exemplo.
É verdade que eu só costumo ir um dia, e a uma mesa que geralmente é a da tarde. Por isso não vivo muito aquilo certo? Pelo festival existem outros eventos como concursos literários, lançamentos de livros e muitas, muitas mesas de discussão. Mas como eu vou só à mesa digo vos que de uma forma geral pouco se fala de livros. Diria que ali o poder está mesmo nas palavras. É óptimo ver e ouvir, como aquelas mentes, aqueles marionetista das palavras, interpretam um assunto.
A mesa de sábado contava com os ilustres Luis Sepúlveda, Alicia Kopf, José Luiz Tavares, Maria Flor Pedroso, Onésimo Teotónio, e Daniel Jonas. O tema a discutir era "Entre mim e a escrita, o purgatório".Alicia Kopf, não vos minto, não percebi bem a discussão dela porque ela falou em castelhano um pouco cerrado, então não percebi bem se era um purgatório para ela porque não haviam muitos livros para ela com o tema da convivência com um familiar autista, que era a realidade dela, e por isso procurar as palavras era complicado, ou se seria um purgatório no momento em que deixava de escrever e de conviver com aquelas personagens e sentir o vazio. Depois falou Daniel Jonas que falou num poeta, William Wordsworth e com um exemplo de um poema mostrou que a escrita é um purgatório porque, de uma forma geral, a escrita não nasce de um acto de felicidade. Eu discordo porque penso que podemos estar felizes e escrever uma boa história, agora que a história não seja feliz (porque seja um drama, policial, etc) é outro dominio. José Luiz Tavares dizia que primeiro para ele era um purgatório estar ali porque ele é muito nervoso e não gostava de estar assim em público e disse que era um purgatório ser poeta porque poeta nem palavras tem dele - um àparte gostei muito da discussão do José porque ele conseguiu usar o nervosismo nele num assunto de conversa, e risota . Tinha chegado a vez do Luis Sepúlveda e já me tinha esquecido como tinha gostado dele a primeira vez, e como ele é um contador de histórias nato.
Na primeira intervenção dele, disse que para ele a escrita é um acto de felicidade. Sendo o trabalho dele, ele gosta de escrever e não era sado masoquista. E que quando se sente mal, toma uma aspirina. Luis dizia que não sabia o que discutir acerca do tema porque, pensava que nunca tinha passado por uma situação de purgatório (palavra que não gostava), até que se lembrou de duas situações. A primeira foi uma aventura na altura da escola que envolveu a escrita de uma história erótica com uma professora, e que acabou por ter um castigo que foi um purgatório quando teve de trabalhar na rádio para ganhar dinheiro e o dar à escola. O segundo foi lembrar o purgatório que os 3 mestres que ele idolatrava, Álvaro Mutis, Gabriel Garcia Marquez, e Pablo Neruda sentiram no fim da vida deles, em que viam os seus heróis que criaram e pensavam em como nunca mais teriam outras aventuras. Luis assumiu que o fim dele talvez seja assim também, mas conclui que não era um purgatório muito mau porque ia rever muitas caras amigas.
A mesa foi fechado por Onésimo, o sempre bem disposto Onésimo, mestre orador, que depois de uma carta em que explicava certos aspetos purgatórios do nosso dia a dia, como a América do Trump, conclui que a escrita quando é um purgatório, essa dor nunca deve ser transmitida ao leitor, e deu o exemplo de um poeta açoreano que passou da ilha para o Alentejo e escreve um poema que fala ao Avó como a terra não é o mar.
Em hora e meia, saimos com a mente cheia de histórias e palavras bonitas. É um bom evento e penso que deviam existir mais, cá no Norte pelo menos, acerca da escrita e da literatura. E claro, não faltou a bela da feira do livro.
Para o ano quero ver mais cedo o programa e quem sabe não tiro mesmo um dia de férias para viver mais o festival em si.
Sinceramente,