Quando os chefes são humanos
A vida são dois dias certo? E tentamos aproveitar ao máximo o nosso tempo livre: ler, estar com a família e amigos, sair, viajar, descansar a ver TV ou num piquenique. Queremos que o tempo estica mas ele foge nos pela mão, de fininho. Quando estamos no ambiente profissional, a coisa muda. Por muito que seja algo que nos preencha, que gostamos, maior parte das vezes queremos é que passe, para chegar ao tempo de lazer. Contudo, no intervalo de tempo que estamos lá o tempo parece que não passa, e a iminência de episódios é sequencial, de tal forma que já não nos lembramos bem o que aconteceu ontem. A competição existe sempre, e é um constante embater um nos outros, a puxar por cada vez melhor cumprir a tarefa em menos tempo para mais trabalhoconseguirmos fazer no mesmo tempo de trabalho diário ( ou mais quando assim abusamos ou abusam de nós). E no fim desta linha está sempre um chefe.
O chefe é aquela personagem mítica como as sogras. Eu penso assim, porque há tanta lenga lenga, anedotas, e outros trocadilhos que tais, há tantas conversas e esteriótipos acerca dessas personagens que qualquer pessoa sem conhecer outra, com uma frase completamente generalista, quebra o gelo e começa a desenrolar tudo o que tinha dentro. E no entanto, como qualquer sogra, também existem bons chefes, e alguns mal compreendidos.
Um chefe tem que ser imparcial, e por muito que nos custe ele tem que se afastar a ponto de não confundir relações pessoais com relações profissionais no que toca nas suas escolhas diárias. E no dia a dia, embora com uma piada, uma conversar informal ali, a verdade é que a sequência de trabalho vai passando e a relação também, e daí muitas das vezes, embora possamos ter boas conversas informais, a personagem chefe começa a ganhar um aspeto diabólico.
Mas quando nos apercebemos que apesar de toda a mística por trás dessa personagem, existe um humano, como é que nos sentimos? Esta ideia veio no outro dia no meu emprego. Seria de esperar que já devia ter pensado nisso até porque é uma chamada empresa familiar, em termos de gerência, e não só: o pessoal mais antigo é pilar na formação da empresa porque está lá deste os primeiros suspiros de vida. Mas quando vi um abraço meigo entre um deles e o pai fiquei assim para lá de "ó que imagem fofa".
Penso que eu por vezes possa até ser formal ou fria demais porque estou lá para trabalhar, para fazer o meu melhor ( e por vezes ainda me atrapalho mais porque quero fazer tudo e mais e não dá) e chegar rápido ao final do dia para ter tempo para mim, e acabo por não mandar a piada para ali, ou uma conversa ali. Mas perceber que eles também têm afeto e são humanos, dá nos aquela ideia que afinal eles são gente como nós.
Pode parecer uma conversa talvez ídilica, ou infantil nalgum aspeto, porque estou a dizer que não são gente. Não estou a dizer que eles nem mereciam respirar o mesmo ar que nós, e que são robots autênticos no contexto sentimental, até que eu apesar de tudo, e de ter de lidar com injustiças a vários níveis, não me posso queixar. Mas em termos de ornograma profissional a coisa tem que ser mais formal, e facilmente nos esquecemos que somos gente, e não uma peça de roldana que faz a máquina trabalhar. Para mim perceber isto fez me sentir mais respeito por eles, mas a verdade é que até que pontos nos faz sentir mais próximos e quebrar aquela barreira em que temos de excesso de confiança e abusamos?
Qual a vossa opinião? Começo uma semana laboral a falar de chefes, devo andar mesmo inspirada. Ou, ando é mesmo a suar trabalho pelos poros. Maio é um mês tão complicado. Quando é que chega mesmo Junho, e a Feira do Livro??
Sinceramente,